Um time que consegue tomar nove gols em nove minutos, entregando o jogo descaradamente. Outro, que joga a segunda divisão no mesmo ano em que foi rebaixado da primeira – e tem quatro pênaltis marcados a seu favor em um jogo decisivo – sendo três depois dos 37 minutos do segundo tempo. E de quebra, um prefeito de 52 anos que entra em campo com a camisa 10 do time de sua cidade – neste mesmo jogo decisivo. Tudo isso aconteceu no incrível Campeonato Maranhense da segunda divisão – que terminou, ou parece que terminou, nesta quinta-feira.
Viana e Moto Club disputavam a última vaga na primeira divisão de 2010. O Moto conseguia a façanha de disputar a segundona no mesmo ano em que foi rebaixado. O certame, disputado por quatro times (seriam cinco, mas o Itinga, também rebaixado este ano, foi excluído por dívidas com a Federação), chegou à última rodada com um classificado: o Santa Quitéria, campeão do primeiro turno.
Viana e Moto Club tinham o mesmo número de pontos. E o primeiro levava vantagem no primeiro critério de desempate – o saldo de gols (tinha dois a mais). Os jogos foram marcados para o mesmo horário. E… foi assim que começou a última e agora já eterna rodada.
Jogo 1 – Viana 11 x 0 Chapadinha (Estádio Daniel Nascimento Filho, Viana-MA) Sob a mais que precária iluminação do Estádio Daniel Filho, o Danielzinho (capacidade para 3.265 pessoas), poucos pagantes presenciaram o mais patético caso de “jogo entregue” da história recente. O time local, o Viana Esporte Clube, precisava da vitória contra o Chapadinha para garantir o acesso à primeira divisão. Gil Lopes, diretor de futebol do clube, admitiu que o time praticamente "desistiu de jogar" após sofrer o terceiro gol do Viana . - Deu um ‘apagão’ geral no time. De repente, começou a escurecer, e a equipe relaxou. E nem os jogadores souberam explicar o que aconteceu. Estamos nos perguntando até agora o que houve. Só que depois de três gols, o time relaxou, desistiu de jogar praticamente - reconheceu. O presidente do Viana, José Carlos Costa, porém, não se intimida diante da suspeita de armação. Mas admite que o adversário "desistiu" da partida a partir de certo momento: - Foi normal o resultado. Assim com o Viana ganhou, o Chapadinha poderia vencido também. Como o Chapadinha levou o terceiro e o quarto gol, e não tinha mais condições de ganhar, desistiu - afirmou. O presidente do Moto Club, Cléber Verde, afirmou que houve "facilitação de forma escandalosa" por parte do Chapadinha ao Viana, com a intenção de prejudicar o clube de São Luís. O dirigente exige que a partida seja anulada. Jogo 2 – Moto Clube 5 x 1 Santa Quitéria (Estádio Nhozinho Santos, São Luiz-MA) O Santa Quitéria entrou no gramado do Nhozinho Santos já classificado. Por isso, a principal atração do time entrou em campo de chuteiras brancas e camisa 10. Aos 52 anos, Menin Leal, prefeito e presidente de honra do clube, jogou os dez minutos iniciais. O Moto Club não conseguiu marcar no período, mas no fim do primeiro tempo já vencia por 3 a 0. Tradicional time maranhense, o Moto – que tem 24 títulos estaduais – parecia assim garantir a vaga na primeira divisão. Quando a partida se aproximava do fim, porém, chegou a São Luís a notícia de que o Viana começava a fazer gols. Coincidentemente, o Moto – que tinha um jogador a mais – começou a ter pênaltis a seu favor. Foram três depois dos 37 minutos da segunda etapa. O último, aliás, foi desperdiçado. A vitória por 5 a 1 acabou não sendo suficiente diante da enxurrada de gols do Viana. Dublê de prefeito e jogador do Santa Quitéria, Manin Leal chamou o árbitro Robson Martins Ferreira, que apitou o jogo contra o Moto, de "pilantra" e "safado". E defendeu a atitude dos jogadores do Chapadinha . - Quando o Viana fez gol, um árbitro amador deu uma penalidade para o Moto. Aí eles (no outro jogo) viram aquilo e entregaram. E estão certos. O presidente da Federação Maranhense de Futebol, Alberto Ferreira, afirmou que o caso "desmoraliza" o futebol local e determinou a abertura de sindicância para investigar o caso. O procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, vê possibilidade de punição aos jogadores do Chapadinha e de anulação do jogo . - Se fosse no Campeonato Brasileiro, só pelas imagens eu denunciaria os atletas que identificasse - afirmou.
O jogo seguiu a receita de toda santa armação brasileira. No intervalo, o proverbial atraso para saber do resultado da outra partida. Qunado chegou a notícia de que o Moto Club goleava o Santa Quitéria… o incrível aconteceu. Os jogadores do eliminado Chapadinha começaram a andar em campo. O Viana, que vencia por 2 a 0 até os 35 minutos da segunda etapa, fez nove gols nos nove minutos finais. Detalhe: no primeiro turno, as equipes tinham empatado sem gols.
As imagens no vídeo acima evidenciam a falta de resistência de atletas do Chapadinha.
Presidente da Federação: Caso "desmoraliza o futebol maranhense”
- Eu acho que foi um escândalo. É uma coisa que vem desmoralizar o futebol maranhense. Todos nós sabemos que, em situação normal, o Chapadinha não perderia assim. Eu já estou redigindo uma portaria, pedindo uma sindicância para apurar o que aconteceu em Viana. Logo depois de apurar o que houve, vamos mandar para a Justiça Desportiva - afirmou ao site 'imirante.com'.
O diretor-técnico da entidade, José Alberto de Morais Rêgo, criticou os dirigentes dos clubes envolvidos no resultado suspeito.
- É uma vergonha para o futebol o que os dirigentes dos clubes fizeram. Eu não tenho culpa de existirem dirigentes deste naipe. Então não é preciso ir a campo. Pergunta quantos gols precisam e pronto. Bota logo no placar - disse ao "imirante.com".
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